3.7.09

VOCÊ MORA NO SUBÚRBIO OU NA PERIFERIA?
Sara Teles

Há vários termos que expressam conceitos sobre os espaços das cidades, mas que muitas vezes são usados de forma incorreta. É o caso da palavra subúrbio que, etimologicamente, significa o espaço que cerca uma cidade, mas esse sentido tem sido deturpado, em especial no Rio de Janeiro, onde passou a designar a periferia.

É o que diz Nelson Nóbrega Fernandes, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense: "A palavra subúrbio, no Rio, é muito mal resolvida e ganhou uma conotação muito forte de classe, até meio pejorativa".
Outra característica dos subúrbios é a baixa densidade de ocupação dessas áreas que, por essa razão, podem abrigar pequenas propriedades agrícolas, condomínios de luxo, estádios, parques, ou outro tipo de empreendimento que busque mais espaço. Com a industrialização, por exemplo, formaram-se subúrbios industriais e operários. A palavra traduz uma situação intermediária entre cidade e campo e não uma condição sócio-econômica.

Mas, segundo Fernandes, com o crescimento das cidades, o que antes era suburbano, vira urbano. Conforme a mancha urbana vai se ampliando, áreas que antes se enquadravam nesses critérios, com uma intensa ocupação e urbanização, passam a se caracterizar como bairros, mas nem por isso deixam de ser chamadas de subúrbios. Além disso, até o início do século XX, o termo era utilizado para todas as áreas periféricas da cidade, independente do uso do espaço. Com as reformas urbanas, a partir das primeiras décadas do século passado, a palavra subúrbio passa a ser usada para designar áreas servidas pela ferrovia.

No Rio, o setor Norte-Oeste fez com que se considerasse subúrbio um lugar onde há um serviço de transporte urbano - o trem - e onde supostamente morariam as classes sociais menos abastadas, perdendo assim o seu caráter geográfico. Já em São Paulo, subúrbios são os municípios formados a partir da construção da linha férrea que ligava a capital ao interior.

No contexto brasileiro, a palavra periferia é algo típico do processo de metropolização dos anos 1960-70. O termo tem sido usado para designar loteamentos clandestinos, ou favelas localizadas em áreas mais centrais, onde vive uma população de baixa renda.
No Brasil, freqüentemente se associa à periferia as regiões urbanas de infra-estrutura precária e baixa renda, sendo tomada freqüentemente como sinônimo de zona suburbana, embora uma região periférica não seja necessariamente pobre. Excepcionalmente, podem existir regiões periféricas em grandes centros urbanos que são ocupadas por empreendimentos imobiliários de alto padrão, que é o que acontece no caso da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e com os condomínios da Serra da Cantareira, em São Paulo.

Em países como os Estados Unidos, a regra é inversa ao caso brasileiro: as periferias são as áreas da cidade que concentram a população de mais alta renda, enquanto a população mais pobre vive geralmente em áreas centrais da cidade, freqüentemente em guetos ou cortiços.

Nos países europeus como França, Alemanha e Reino Unido, as periferias são regiões semelhantes às dos Estados Unidos, abrigando em sua maioria uma população de alta renda, porém, em outros países do mesmo continente, existem casos de zonas periféricas formadas por conjuntos habitacionais de baixa renda, construídos através de companhias de desenvolvimento habitacional, com auxílio das prefeituras e dos governos estaduais. Porém, essas regiões não deixam de abrigar grandes mansões, sobrados e condomínios horizontais de luxo, as quais estão localizadas em regiões diferentes da população mais carente.

Em âmbito global, considera-se ainda como "periferia" o conjunto de países fora do centro econômico, entendido geralmente como a América do Norte, a Europa, Israel e o bloco do Pacífico. Alguns cientistas sociais e políticos distingüem a "periferia próxima", composta por países menos desenvolvidos mas com alguma relevância econômica e política, tais como China, Índia, Brasil e Rússia, ou de médio desenvolvimento, como México, Argentina, Uruguai e Chile e a "periferia distante", composta pelas nações pobres e pouco influentes

Para Manoel Lemes da Silva, professor de planejamento urbano e regional, da Faculdade São Marcos, de São Paulo, o termo periferia carrega consigo um sentido político, econômico e social que o subúrbio em princípio, não tem. "Não dá para pensar em periferia sem pensar em centro. É um par dialético que faz parte dos fundamentos da teoria do desenvolvimento econômico", diz o professor.

Em termos mundiais, o conceito de periferia foi reforçado após as duas grandes guerras e acirrado com a Guerra Fria, destinando o status de centro àqueles países de maior poder econômico e militar, e de periférico aos mais pobres, dependentes, com problemas de infra-estrutura, segundo Silva. Nas cidades, o conceito se aplica ao espaço onde está o centro econômico de poder. Do lado oposto, estaria a periferia. Silva afirma que o conceito surgiu na tentativa de tornar toleráveis a manutenção de cidades ao Estado. Mas o que se tem na verdade, é uma perpetuação das desigualdades sociais e econômicas.

Referência: Ciência e Cultura (Scielo)

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