31.5.09

A RIQUEZA QUE VEM DA PERIFERIA
Sara Teles

Jornal A NOTÍCIA

Nas últimas cinco décadas a parcela da população brasileira vivendo nas cidades passou de 30% para mais de 80%. Os antigos subúrbios não cresceram de forma natural e ordenada. Eles incharam e se transformaram nas periferias que conhecemos atualmente. São grandes regiões que abrigam uma massa enorme de pessoas, em sua maioria de baixa renda, analisa Eder Luiz Bolson, que é fundador de cinco empresas e professor universitário.
Se antes a maioria dos executivos e estrategistas das grandes multinacionais que atuam nos países em desenvolvimento focava suas ações de marketing nas classes de maior poder aquisitivo, pois presumiam que os mais pobres não tinham dinheiro para gastos com bens e serviços, sobretudo daqueles que vão além das necessidades básicas da alimentação, saúde e habitação, hoje eles reconhecem que há riqueza na base da pirâmide.
No Brasil, por exemplo, o mercado de baixa renda para bens e serviços envolve 87% da população e o seu potencial de vendas se aproxima dos R$ 500 bilhões. Estima-se, por exemplo, que só a população que vive nas favelas do Rio de Janeiro tem um poder aquisitivo anual de R$ 2,5 bilhões, ou cerca de R$ 100,00 por mês por habitante, afirma o professor Bolson.
Muitos mitos e paradigmas acerca dos hábitos de consumo dos moradores da periferia foram criados pela falta de conhecimento. Diante disso, muitas multinacionais estão até aconselhando seus executivos e estrategistas de marketing a morarem por certos períodos nas periferias. Talvez com isso consigam entender melhor o comportamento dos menos abastados. Empresas já mudaram suas estratégias em relação a esse tipo de consumidor. Quem não se lembra do caso de sucesso das balas de um centavo, ou do sabão em pó Alla que já é a segunda marca mais vendida na região Nordeste, ou da Tubaína como alternativa barata aos famosos refrigerantes, ou das lojas que vendem artigos a R$ 1,99?
Em Ilhéus, percebe-se um crescimento dos estabelecimentos comerciais voltados para atender ao consumidor que, em virtude de restrições orçamentárias, adquire produtos mais baratos. Em bairros como Nelson Costa e Teotônio Vilela o comércio é efervescente e tende a expandir-se ainda mais. A população começa a se conscientizar de que usufruir de bens e serviços disponíveis no próprio bairro é vantajoso, pois os produtos normalmente são oferecidos por comerciantes da localidade, que conhecem os hábitos de consumo daquela população, oferecendo produtos e níveis de preço dentro do que o consumidor quer e pode pagar.

3.5.09

DROGAS: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
Sara Teles
(Jornal A NOTÍCIA)
Imagine uma família em plena tarde de um domingo ensolarado, preparando um saboroso churrasco na beira da piscina. Poderia ser mais um daqueles finais de semana em que pais e filhos confraternizam-se. Mas a chegada de um filho drogado muda os planos de descanso da família. Sob efeito de drogas, o jovem Tobias Lee Manfred Hahn, 24 anos, tenta matar a mãe Flávia Costa Hahn, 60 anos, com uma faca. Desesperada, ela pegou um revólver e disparou contra o filho, atingindo-o mortalmente no pescoço.
Diversas vezes encaminhado à clínicas psiquiátricas, na última vez Tobias fugiu pela janela da ambulância quando esta parou na sinaleira, ele também respondia a processos por assaltos, posse de drogas, furtos e lesão corporal praticado contra familiares.
Esse triste episódio revela mais uma vez o submundo das drogas, que tem sido pano de fundo de pelo menos 70% dos homicídios em locais de baixa renda e, pelo visto, espraiando-se pela classe média alta.
Dados da OBID (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas) acerca da dependência de drogas no Brasil apontam que 12,3% da população são dependentes de álcool, 10,1% de tabaco, 1,2% de maconha, 0,8% de cocaína e 0,14% de crack, sendo que predominam dependentes jovens, entre 17 e 25 anos, e do sexo masculino.
Em todo Brasil tem-se desenvolvido diversas ações para que episódios como o da família Hahn não se repitam. Em Ilhéus, a criação do Conselho Municipal sobre Drogas vem fortalecer o esforço nacional de combate ao uso de entorpecentes, dedicando-se ao pleno desenvolvimento de ações referentes à redução da demanda de drogas.
Os Centros de Recuperação de Dependentes Químicos também têm realizado um trabalho com resultados surpreendentes. São muitos os casos de pessoas que, mesmo em situação aos olhos de muitos irremediável, encontraram um caminho longe das drogas. Mas a realidade de tais instituições é bastante difícil. Em geral, quando as famílias solicitam a ajuda, o familiar dependente químico já provocou tamanha destruição de bens que os parentes mal possuem recursos para mantê-lo no processo de tratamento.
No município existem seis centros de recuperação, cinco deles estão ligados às igrejas evangélicas e um à igreja católica. A maioria funcionando com alguma dificuldade relacionada à alimentação, vestimenta e outros custos. Recentemente, o centro de recuperação que funcionava no bairro Teotônio Vilela precisou encerrar as atividades, em virtude de não haver recursos suficientes para pagar o aluguel. Em face disso, vê-se a necessidade de tratar o problema das drogas como um caso de saúde pública, com centros de recuperação recebendo aporte financeiro para que possam ampliar o trabalho, devolvendo às famílias filhos que sejam orgulho para seus pais.