24.2.09

MÚSICA POPULAR: QUANDO A CRÍTICA É UM PRECONCEITO
Sara Teles

(Jornal A NOTÍCIA)

Ela está presente em quase todo lugar, sobretudo nas festas populares, tão comuns em nosso país. Todavia, embora no Brasil, desde 1500, a música popular prevaleça, esta tem sido alvo constante de críticas e preconceitos. Pergunta-se: com base em que parâmetros éticos e/ou estético-musicais – podemos afirmar que uma música ou um gênero é “ruim”? E quem se encontra habilitado para afirmar certas crenças e valores em arte e em música?
Os estilos como o MPB, Bossa-Nova, Rock Progressivo, Blues, Jazz, e os Clássicos, estes com seus nomes mais famosos como Mozart, Beethoven e Bach, e todas as demais expressões musicais de tradição erudita européia são definidas como música “de qualidade”, em detrimento do pagode paulistano e baiano, do sertanejo, do axé, do funk carioca e, mais recentemente, o arrocha, aqui na Bahia.
Curiosamente, todos os estilos execrados pelos críticos (que se julgam autorizados a legitimar seus gostos musicais) se originaram nas camadas menos abastadas da sociedade. E custa acreditar, mas se evidencia, portanto, um preconceito com o que é produzido nas periferias.
Ninguém pode fazer contestações acerca do prazer e do envolvimento real que os gêneros populares proporcionam a milhares de pessoas. Imagine a 9ª Sinfonia de Beethoven em pleno carnaval? Ou a Bossa-Nova agitando a juventude na noite carioca? Cada estilo possui seu contexto de formação, de difusão e o momento adequado de execução. O arrocha, por exemplo, não poderia surgir na elite, pois é um ritmo que nasceu para ser econômico e divertir a massa, ao contrário de uma orquestra sinfônica, que requer um investimento financeiro muito maior, além de não caber no bar da esquina e nem no trio elétrico.
Claro que existem níveis de complexidade melódica diferenciados, além de letras mais elaboradas e outras menos escorreitas, todavia, isso não basta para definir se a música é boa ou ruim. O valor estético é peculiar ao grupo no qual a manifestação cultural e artística está inserida. Olhar de fora e fazer ingerências a respeito é algo muito arriscado, pois se pode cair na armadilha do etnocentrismo, que consiste em erigir, de maneira indevida, os valores próprios da sociedade a que pertence em valores universais, e pior, de maneira não crítica: acredita que os seus valores são OS valores, e isso basta-lhe.