7.7.09

Da tolerância a erros à punição: existe uma postura correta por parte do líder?
Por Karin Sato - InfoMoney

Ninguém sabe ao certo quantas vezes Thomas Edison errou para que acertasse no invento da lâmpada incandescente. Para sanar esta dúvida, a reportagem deste portal tentou fazer uma pesquisa na internet, mas alguns sites diziam que foram 5 mil tentativas, outros, que foram 1 mil. Um dos sites apostava em um número ainda maior: 3 milhões. Nem o inventor deveria saber ao certo.A questão é que errar é humano. E isso ninguém discute. Principalmente quando o assunto é trabalho. De acordo com o presidente da Empreenda, César Souza, o problema se dá quando um profissional não sabe aprender com os erros que comete."Não é ruim errar. É ruim quando ocorre a repetição dos erros, em um ciclo destrutivo no qual as pessoas se colocam e não conseguem sair, pois não aprendem a evitá-los", explica. No caso de Thomas Edison, se ele não tivesse essa capacidade de aprender e encarar o erro como uma oportunidade, não teria inventado a lâmpada.O diretor de Operações da Human Brasil, Fernando Montero da Costa, garante que, para aprender com os erros, se faz necessária a autocrítica. "O profissional deve avaliar como a qualidade do seu trabalho afeta os resultados da equipe, da sua área e da empresa. É essencial entender a realidade que o circunda e ter força para identificar e admitir os pontos fracos e encará-los de maneira a reverter a situação", revela.


Erro técnico ou comportamental?


"O erro comportamental é, de longe, o mais grave. Erros técnicos são fáceis de corrigir. Problemas de atitudes são difíceis, porque muitas pessoas ficam cegas e nem sempre conseguem evitar ou corrigir. Aprendizado técnico é fácil. Aprendizagem emocional e de atitude é difícil", afirma Souza.O problema é que, geralmente, o erro técnico leva ao erro de comportamento. Isso porque o ser humano tem dificuldade de aceitar críticas. São raros - e valiosos - os profissionais que aceitam críticas, reconhecem o equívoco cometido sem franzir a testa e propõem uma solução definitiva para ele.Segundo Costa, existe um ponto essencial a ser considerado pelo gestor: o funcionário que erra com frequência não pode se colocar no lugar da vítima, embora esta seja a tendência. É da natureza do ser humano, na tentativa de preservar sua autoestima, se defender colocando a culpa em terceiros e não assumindo responsabilidades.


A demissão se justifica?


Dependendo da gravidade do erro e de seus impactos, há quem opte por desligar o funcionário, sem dar a ele uma segunda chance. Mas Costa alerta que existe uma diferença entre entregar um relatório fora do prazo e entregar uma declaração ao Fisco com informações equivocadas, o que pode gerar multa à empresa."Em função do impacto do erro, muitas organizações acabam demitindo, mas este não é o melhor caminho", explica. "Antes, deve ser analisado o histórico do profissional, o que ele já fez pela empresa e o quanto já gerou de lucro, bem como deve ser medido seu nível de esforço e proatividade".Demitir de cara é sempre o caminho mais fácil e, de certa forma, também o mais covarde, porque o colaborador que tem dificuldades, sejam elas técnicas ou comportamentais, não tem a oportunidade de melhorar, ou de acertar. Logo, o melhor que o líder tem a fazer é dar feedback ao colaborador que errou e esperar que, da próxima vez, ele não cometa o mesmo equívoco.


Quando o erro passa a ser do líder


Porém, se o funcionário repetir erros já cometidos e nada for feito a respeito, as chances são grandes de que o erro passe a ser do líder. Souza diz que, sem dúvida, quando colaborador ou equipe desenvolve um trabalho medíocre, o líder é prejudicado, porque não consegue atingir as expectativas da diretoria. Entretanto, às vezes, a culpa é do próprio gestor e é ele quem precisa ser avaliado."Quando os erros do colaborador se repetem, passa a ser um erro do líder, que é muito tolerante, paternalista e complacente com quem erra seguidas vezes e não demonstra esforço para mudar. Oportunidade não é algo que o líder dê. Oportunidade é algo a ser conquistado pelo liderado", sublinha o presidente da Empreenda. "Neste caso, o líder não está fazendo aquilo que deveria fazer: avaliar, orientar e garantir a performance superior da empresa frente à concorrência", acrescenta.O consultor da Robert Wong, André Alfaya, concorda. Para ele, quando os erros de um colaborador são recorrentes, pode ser que o líder não soube dar feedback, não soube se comunicar.


Como lidar com o erro


Segundo Costa, é importante que o líder não seja condescendente com o profissional que não corresponde às expectativas. Assim, tão logo o funcionário erre, é preciso chamar a sua atenção. Afinal, ele não poderá se corrigir se não souber que está errando. Além disso, existe uma tendência das pessoas de se acomodarem em questões relacionadas à vida, inclusive o trabalho. Chamar a atenção é uma forma de desviar as pessoas deste comportamento natural.Se os erros forem rotineiros, infelizmente o líder terá de chamar a atenção todos os dias. O especialista explica o motivo por meio daquilo que chama de "teoria da equidade". É preciso tratar todos da equipe da mesma forma, sempre."Para que toda uma equipe se sinta motivada, cada um deve sentir que carrega um piano e que não há ninguém sem piano. Além disso, ninguém quer carregar um piano a mais por outro. Em outras palavras, o líder não deve distribuir privilégios, bem como precisa distribuir responsabilidades de forma igualitária. Porém, se ele aceita o mau desempenho de um membro da equipe e cobra uma performance excelente de outro, não está cumprindo com seu papel de líder".Alfaya diz que, para evitar injustiças, o gestor deve esclarecer as regras desde o início, tanto no que se refere às punições quanto às compensações pelo bom desempenho. Elas devem ser iguais para todos. Com isso, quando o desligamento for a única saída, não se trata de uma punição ou injustiça, porque as regras haviam sido comunicadas. Isso também evita que o colaborador alegue falta de informação."Se a escolha de um funcionário for não mudar e ficar repetindo os erros, o afastamento ou desligamento não é uma punição. Trata-se de cumprir com um acordo que estava claro desde o início", explica o presidente da Empreenda.O consultor da Robert Wong alerta para o problema de o líder ser considerado "mole" ou "bonzinho demais": "O gestor "mole" provavelmente terá uma equipe "mole" ou alguém mais competente do grupo irá tomar seu lugar".


Quando faltam competências


Existe a hipótese de o funcionário simplesmente não possuir as habilidades técnicas ou comportamentais necessárias para exercer aquela determinada função. Costa explica que, quando isso ocorre, o erro foi das duas partes: da empresa, no momento da contratação, e do funcionário, que se dispôs a assumir as funções.O grande problema dos erros é que eles acarretam a queda da qualidade do trabalho, o que, por sua vez, se reflete na imagem da empresa e pode implicar prejuízos de receita, bem como acarretar reclamações por parte dos clientes, de acordo com Souza.


Como estimular o aprendizado?


Uma dúvida muito comum entre gestores é: como posso estimular o aprendizado daquele profissional que vem cometendo erros? Alfaya sugere aos líderes, no lugar de dar respostas de forma "mastigada" aos colaboradores, perguntar a eles o que fariam diante de determinado problema."Essa postura força o profissional a raciocinar e encontrar, sem ajuda dos demais, a solução mais adequada. Sem dúvida, é uma forma de estimular seu desenvolvimento. O líder deve ser inspirador e ajudar as pessoas a atingirem seus objetivos maiores de vida, seus sonhos", analisa o consultor.Souza é um pouco mais enfático quanto a essa questão. Ele diz que "o aprendizado se dá por sucção". Em outras palavras, cabe ao profissional querer aprender. "Quando alguém não quer aprender, não adianta ficar tentando ensinar".

Fonte: administradores.com.br

3.7.09

VOCÊ MORA NO SUBÚRBIO OU NA PERIFERIA?
Sara Teles

Há vários termos que expressam conceitos sobre os espaços das cidades, mas que muitas vezes são usados de forma incorreta. É o caso da palavra subúrbio que, etimologicamente, significa o espaço que cerca uma cidade, mas esse sentido tem sido deturpado, em especial no Rio de Janeiro, onde passou a designar a periferia.

É o que diz Nelson Nóbrega Fernandes, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense: "A palavra subúrbio, no Rio, é muito mal resolvida e ganhou uma conotação muito forte de classe, até meio pejorativa".
Outra característica dos subúrbios é a baixa densidade de ocupação dessas áreas que, por essa razão, podem abrigar pequenas propriedades agrícolas, condomínios de luxo, estádios, parques, ou outro tipo de empreendimento que busque mais espaço. Com a industrialização, por exemplo, formaram-se subúrbios industriais e operários. A palavra traduz uma situação intermediária entre cidade e campo e não uma condição sócio-econômica.

Mas, segundo Fernandes, com o crescimento das cidades, o que antes era suburbano, vira urbano. Conforme a mancha urbana vai se ampliando, áreas que antes se enquadravam nesses critérios, com uma intensa ocupação e urbanização, passam a se caracterizar como bairros, mas nem por isso deixam de ser chamadas de subúrbios. Além disso, até o início do século XX, o termo era utilizado para todas as áreas periféricas da cidade, independente do uso do espaço. Com as reformas urbanas, a partir das primeiras décadas do século passado, a palavra subúrbio passa a ser usada para designar áreas servidas pela ferrovia.

No Rio, o setor Norte-Oeste fez com que se considerasse subúrbio um lugar onde há um serviço de transporte urbano - o trem - e onde supostamente morariam as classes sociais menos abastadas, perdendo assim o seu caráter geográfico. Já em São Paulo, subúrbios são os municípios formados a partir da construção da linha férrea que ligava a capital ao interior.

No contexto brasileiro, a palavra periferia é algo típico do processo de metropolização dos anos 1960-70. O termo tem sido usado para designar loteamentos clandestinos, ou favelas localizadas em áreas mais centrais, onde vive uma população de baixa renda.
No Brasil, freqüentemente se associa à periferia as regiões urbanas de infra-estrutura precária e baixa renda, sendo tomada freqüentemente como sinônimo de zona suburbana, embora uma região periférica não seja necessariamente pobre. Excepcionalmente, podem existir regiões periféricas em grandes centros urbanos que são ocupadas por empreendimentos imobiliários de alto padrão, que é o que acontece no caso da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e com os condomínios da Serra da Cantareira, em São Paulo.

Em países como os Estados Unidos, a regra é inversa ao caso brasileiro: as periferias são as áreas da cidade que concentram a população de mais alta renda, enquanto a população mais pobre vive geralmente em áreas centrais da cidade, freqüentemente em guetos ou cortiços.

Nos países europeus como França, Alemanha e Reino Unido, as periferias são regiões semelhantes às dos Estados Unidos, abrigando em sua maioria uma população de alta renda, porém, em outros países do mesmo continente, existem casos de zonas periféricas formadas por conjuntos habitacionais de baixa renda, construídos através de companhias de desenvolvimento habitacional, com auxílio das prefeituras e dos governos estaduais. Porém, essas regiões não deixam de abrigar grandes mansões, sobrados e condomínios horizontais de luxo, as quais estão localizadas em regiões diferentes da população mais carente.

Em âmbito global, considera-se ainda como "periferia" o conjunto de países fora do centro econômico, entendido geralmente como a América do Norte, a Europa, Israel e o bloco do Pacífico. Alguns cientistas sociais e políticos distingüem a "periferia próxima", composta por países menos desenvolvidos mas com alguma relevância econômica e política, tais como China, Índia, Brasil e Rússia, ou de médio desenvolvimento, como México, Argentina, Uruguai e Chile e a "periferia distante", composta pelas nações pobres e pouco influentes

Para Manoel Lemes da Silva, professor de planejamento urbano e regional, da Faculdade São Marcos, de São Paulo, o termo periferia carrega consigo um sentido político, econômico e social que o subúrbio em princípio, não tem. "Não dá para pensar em periferia sem pensar em centro. É um par dialético que faz parte dos fundamentos da teoria do desenvolvimento econômico", diz o professor.

Em termos mundiais, o conceito de periferia foi reforçado após as duas grandes guerras e acirrado com a Guerra Fria, destinando o status de centro àqueles países de maior poder econômico e militar, e de periférico aos mais pobres, dependentes, com problemas de infra-estrutura, segundo Silva. Nas cidades, o conceito se aplica ao espaço onde está o centro econômico de poder. Do lado oposto, estaria a periferia. Silva afirma que o conceito surgiu na tentativa de tornar toleráveis a manutenção de cidades ao Estado. Mas o que se tem na verdade, é uma perpetuação das desigualdades sociais e econômicas.

Referência: Ciência e Cultura (Scielo)